domingo, 23 de junho de 2013

Ida ao shopping

Simone Sodré
Médica


Interessante. Tudo muito limpo, bactérias adoram isso. Deixei o carro debaixo de uma led vermelha que indica a vaga ora ocupada. Tudo para me fazer sentir mais. Mais especial. Ainda não climatizaram o estacionamento, o que me deu a chance de sentir um pouco do calor. Sentia-me totalmente incluída entre os melhores nessa escala vertical perversa de pantanoso prazer. 
Ainda sentia o calor quando ao me aproximar da porta automática, dei de cara com um paredão de seguranças fechando a entrada. Nao se opuseram à minha passagem. Vi então uma família: mãe, três filhos pequenos todos trajando roupas de estilo. Estilo que os costureiros vão copiar e blogueiros e blogueiras vão disseminar e as grifes venderão como "moda de rua" por um precinho de dar status a qualquer novo rico que se preze. É o que há de mais moderno. 
Tudo muito perverso.
Pois eu parei e fiquei muito envergonhada de poder entrar e a família não. Perguntei aos seguranças o que havia ali. Eles responderam constrangidos ( e isso pude perceber no olhar no meu) que cumpriam ordens, pois aquela família ia entrar para pedir. E eu entrei sem pedir. E eles nem sabem o que sairia de mim. Os mandantes. 

"Parece que era construção e já é ruína/
...Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial"

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