sábado, 16 de agosto de 2014

O BÁLSAMO CULTURAL ALIVIANDO NOSSA PASSAGEM TERRENA

Por Flávio Rezende*

         Toda viagem agrega uma série de acontecimentos. As mais comuns, que carregam nosso ser em deslocamentos curtos e locais, exigem apenas pequenas providências e, muitas delas, são realizadas praticamente no piloto automático, uma vez que ficamos tão condicionados aos roteiros repetidamente utilizados, que os seguimos sem nem mesmo pensar a respeito das curvas e sinalizações existentes.
         As viagens mais longas exigem atenção mais apurada, posto que nos remetendo ao novo, pedem um olhar mais atento, uma mala que substitui o guarda-roupa e vigilância para evitar que os malfeitores se interponham em nosso roteiro, transformando o bem bom num baixo astral daqueles.
         Tenho viajado bastante, colocando em prática real aquela música dos Novos Baianos que em bela letra revela, “vou mostrando como sou e vou sendo como posso, jogando meu corpo no mundo, andando por todos os cantos e pela lei natural dos encontros, eu deixo e recebo um tanto e passo aos olhos nus, ou vestidos de lunetas, passado, presente, participo sendo o mistério do planeta...”.
         Num desses deslocamentos, nem tão automático e nem tanto vigilante, fui bater na bela praia da Pipa, pertinho de Natal, recanto que albergou parte de minha juventude, onde maconha, surf, comida enlatada, água de coco e cerveja gelada, eram tão presentes quanto o sol e as moças bonitas, numa mistura emoldurada por rock progressivo e MPB e que deixou até hoje, boas recordações de um tempo muito interessante e bem curtido.
         Neste deslocamento pude presenciar e participar graças à bondade da amiga Yanna Medeiros, do Festival Literário da Pipa, conhecido como Flipipa. Foi puro encantamento. O desfrute da pousada Bicho Preguiça com Deinha e Mel, o banho de mar, o passeio pela rua principal e, o êxtase de ouvir palestrantes, bebendo cultura e me alimentando de conversas paralelas de teor literário, reavivaram em meu ser, o grande e fantástico prazer das coisas culturais, dando novo ânimo a minha vida e imantando potente satisfação a meu viver.
         Ouvir pessoas interessantes, falando de coisas legais, sorrir internamente em prazeroso gozo de absorção de saberes, é uma coisa extraordinária, mostrando mais uma vez para este escrevinhador, o quanto é importante e necessário este processo nutricional de alimentação cultural, tão salutar quanto as demais formas de sobrevivência, tais como respirar e comer, uma vez que um ser sem o usufruto da informação que edifica, é um ser sem essência, ficando faltando algo, como se sem alma passasse por sua existência material.
         A praia da Pipa vai nos brindar novamente com esse tipo de alimentação, agora na incrível área da música, aquele setor onde essa nutrição essencial adquire igual potência. Lá vai ocorrer, de 21 a 24 deste mês de agosto, o Fest Bossa & Jazz, tão bem organizado pela amiga Juçara Figueiredo, que promete colocar no palco gente muito boa do jazz como Street Band, Ricardo Silveira Quarteto, Mark Rapp Quartet, Rogério Pitomba, Nuno Mindelis, Camila Masiso, Marcos Valle, Roberto Menescal, Glen David Andrews Band, Sambossamba & Blues, Jaques Morelenbaum & Cello Samba Trio e o Eric Gales.
         Gente da qualidade de Dácio Galvão, Juçara Figueiredo, Yanna Medeiros e outros produtores e fomentadores culturais da cidade como Marcelo Veni, Diana Fontes, Zé Dias, Gustavo Wanderley, Zelma Furtado, Toinho Silveira, Candinha Bezerra, Jomardo Jomas, Daniel Rezende, Margot Ferreira, Claudia Soares, Alexandre Dunga, Jorge Elali, Abmael Silva, Carito Cavalcanti, Rodrigo Cruz, Alexandre Barros, William Collier, Ivonete Albano, Buca Dantas, Daliana Cascudo, Civone Medeiros, Laumir Barreto, Carlos Fialho, Marcílio Amorim, Cinthya Lopes, Yuno Silva, João Hélio, Fernando Mineiro, Hugo Manso, Neiwaldo Guedes, Franklin Jorge, Conrado Carlos, Marcos Sá de Paula, Marília Sá, Chico Guedes, Véscio Lisboa, Rejane Souza, Nalva Melo e Jeane Bezerril, entre tantos outros que me anistiem pela falta de memória momentânea, além de entidades culturais, deveriam ser reverenciados, uma vez que fornecedores de alimentação da melhor qualidade para nossas vidas tornam as passagens por estas paragens mais interessantes e agregam valor de alto nível ao nosso existir terreno.
         Quando escolhemos um destino para jogar nossos corpos, se nele estiver inserido o item cultura, pode colocar no automático e relaxar quanto à segurança, certamente você vai levitar e no fim achar, que valeu a pena ter estado ali para viajar numa fina estampa de alto valor espiritual, carnal e emocional.

* É escritor, jornalista e ativista social em Natal/RN (escritorflaviorezende@gmail.com)

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